O Processo da Aprendizagem Colaborativa
a Partir de Metodologias Criativas
EM 5 PONTOS
- Como fazer com que continuem aprendendo com você?
- Escolhendo uma educação orgânica
- Somos todos diferentes, devemos detectar o potencial de cada aluno com diagnósticos
- E ter flexibilidade para se adaptar a cada aluno
- Desenvolver um ambiente dinâmico e interativo
Escrito por Ágatha Gonzaga – Tempo de letura: 12 minutos.
Em algum momento da nossa vida já começamos um curso que por algum motivo não pudemos concluí-lo. Esta é uma realidade comum a todos nós, não é mesmo? Será que já paramos para pensar nos motivos pelos quais isso aconteceu? Ou só nos ressentimos por não haver terminado o que anteriormente nos propusemos? Então, com este texto gostaria de trazer à tona uma reflexão que brinde a nossa consciência com os motivos pelos quais deixamos um curso antes de terminá-lo.
Esta situação não é uma exceção nas empresas que investem na capacitação do seu pessoal quando os profissionais não têm um aproveitamento satisfatório, como, por exemplo, em uma capacitação de idiomas que muitas vezes os alunos não conseguem dar continuidade. Hoje, devido ao grande aumento das relações comerciais entre diferentes países, principalmente pela pandemia e as facilidades de conexões virtuais, as empresas estão tendo, cada vez mais, essa necessidade de aperfeiçoamento profissional por parte dos seus colaboradores. E, então, poderíamos nos perguntar; como obter mais engajamento dos profissionais/alunos nos cursos/workshops? Neste artigo nós vamos usar o exemplo dos cursos de idiomas, que se pode adaptar para qualquer sector.
Um sistema inflexível
Claro que a falta de continuidade se dá por motivos variados, como, por exemplo: falta de disponibilidade do aluno, excesso de trabalho, dificuldade em aprender, crenças limitantes, falta de segurança, etc. Outro ponto importante a se considerar é que a aprendizagem tradicional de idiomas está enfocada em metodologias gramaticalmente estruturadas, o que é bastante positivo, mas muitas vezes a mesma não tem flexibilidade de adaptação ao contexto particular. Desta forma, observamos que existe uma urgência na necessidade de adequação dos métodos tradicionais de ensino para métodos mais adaptáveis às necessidades dos alunos. Apesar de entendermos que o processo de aprendizagem de cada indivíduo tem um caminho bem particular, também podemos observar que se torna mais valioso quando o aprendizado da competência linguístico-comunicativa está inserido no próprio contexto profissional, social e pessoal.
Como diria Paulo Freire, referência da educação do Brasil e da América Latina, “não é possível aprender se os saberes estão em contradição com os saberes pessoais”. E o que podemos aprender deste conceito? Que quanto mais utilizarmos o universo vocabular do estudante, quanto mais envolvermos o aluno no seu próprio processo de aprendizagem, quanto mais utilizarmos sua própria linguagem e experiência, maior pode ser o sucesso da aprendizagem. Quantos alunos já recebemos e que de uma forma ou de outra nos compartilhou exatamente isso? Foram vários que sentiram que o processo de aprendizagem se dificultou porque não encontraram um ponto de conexão entre o idioma e suas vidas ou ainda que se sentiam incapaz de aprendê-lo.
Não é possível aprender se os saberes estão em contradição com os saberes pessoais
Paulo Freire
A educação orgânica
Sendo assim, entendemos que um método produtivo de aprendizagem é a educação orgânica. E o que é a educação orgânica? A educação orgânica para nós da Escola Brasileando é aquela que faz parte do universo dos alunos e que é essencial e fundamental para eles. Neste contexto, entendemos que a aprendizagem do português brasileiro para estrangeiros deve ser facilitada de forma que possa fazer parte da realidade e, principalmente, do interesse do aluno de forma a se tornar mais arraigada e fundamental na vida deles.
Neste contexto, que tal utilizarmos a metodologia de diagnóstico para conhecimento do perfil dos alunos antes mesmo de estabelecer uma metodologia de aprendizagem? Será que desta forma não conseguiríamos alunos mais interessados e engajados? A nossa experiência demonstra que sim e que, desta forma, entendemos que o planejar das aulas voltadas para a própria realidade dos alunos torna a aprendizagem viva, podendo contribuir para o seu despertar, para o seu desenvolvimento humano e profissional, além de manter o seu interesse nas aulas, fazendo com que se sintam mais motivados para levar o curso adiante. Também entendemos que este diagnóstico deve incluir preferências pessoais e profissionais com o objetivo de potencializar a aprendizagem do idioma português brasileiro e levá-lo para a vida de cada aluno.
Em um momento, uma aluna comentou que já não poderia continuar as aulas porque teria que se preparar para uma certificação profissional dentro da sua empresa, portanto, já não teria disponibilidade. Então, sugerimos que a aluna não deixasse seu processo de aprendizagem para não perder o tempo anteriormente investido e inseriríamos o vocabulário da sua certificação nas suas aulas de idioma. Claro que desta forma o professor também deve estar totalmente comprometido com o desenvolvimento de cada aluno ou grupo de alunos como um compromisso educacional e assim obter também um resultado mais satisfatório.
Em relação às regras gramaticais, as mesmas devem ser relativizadas ao próprio universo do aluno, bem como as habilidades comunicativas que é o conjunto de processos linguísticos que são desenvolvidos no decorrer do estudo, sendo eles: expressão oral e escrita, compreensão auditiva e leitura. Neste contexto é bem comum que a maioria dos alunos tenha dificuldade principalmente na habilidade comunicativa, apresentando interferências com o seu idioma materno. Aqui, nestes casos, é necessário, principalmente no início, as constantes aulas de fonética e a atenção plena do professor com o desenvolvimento da fonética de cada aluno, estando atento às suas dificuldades e trabalhar em cima de cada uma delas para que, com a prática, elas vão se diminuindo.
Além disso, acreditamos que para construir uma aula mais dinâmica e motivadora tanto para o aluno quanto para o professor, se faz necessária a utilização de recursos lúdicos, como dinâmicas, vídeos, jogos, etc., combinados com processos não lúdicos, como, por exemplo, utilização de elementos provocadores, análise crítica das situações da atualidade, textos técnicos ou de autoconhecimento e de relatos sobre a estória pessoal do aluno.
Novos recursos criativos
Um recurso também utilizado que tem contribuído para a aprendizagem é a gamificação, ou seja, a utilização de jogos empresariais, como, por exemplo, o jogo Din Don. O jogo Din Don é uma ferramenta que contém fundamentos complexos, porém de fácil execução. Além disso, é bastante dinâmica, adaptável à realidade do aluno ou do grupo de alunos, principalmente no que se refere à aquisição de vocabulário e geração de novas perspectivas de pensamento. Também é uma forma divertida de aprender, agregadora de conhecimentos através de métodos que facilitam a aprendizagem e fomentam o descobrimento de novas formas de realização de atividades já conhecidas e inclusive ajudam a visualizar a necessidade de realização de novas atividades também.
O jogo Din Don tem sido utilizado nas aulas com muito sucesso. Os alunos se dividem em grupos ou ainda de forma individual e escolhem o seu avatar. Em seguida, sugerem objetivos que tem a ver com a sua realidade profissional ou pessoal e através das cartas Din e Don formulam perguntas com perspectivas de pensamentos diferentes que vão ajudá-los a dar mais claridade para atingir o seu objetivo final. No decorrer do jogo o professor está atento para fazer as correções gramaticais necessárias. Desta forma o aluno vai praticando o idioma e adquirindo vocabulário relevante para ele, uma vez que ele mesmo decidiu sobre o direcionamento da jogada e, portanto, da aula.
Desta forma, os alunos com o estímulo do jogo, aliados ao senso de competitividade e às regras gramaticais previamente inseridas no seu contexto, começam a falar o idioma de forma mais orgânica. Com o uso destas ferramentas, as habilidades comunicativas vão sendo desenvolvidas no decorrer das aulas de forma mais leve, descontraída e estruturada.
Uma conexão humana é fundamental
No entanto, todo o anterior mencionado, não seria tão enriquecedor se a conexão do professor e do aluno não existisse. O professor tem a tarefa de estar engajado na busca do conhecimento sobre o aluno, e, desta forma, ir colhendo as informações, mapeando realidades necessárias para que as mesmas se tornem objeto de aula. Assim, ajuda a estabelecer também uma conexão mais próxima com a realidade do estudante. Por isso, previamente ao início das aulas, é tão importante o envio do questionário para que possamos conhecê-lo melhor e assim direcionar as aulas para o seu total interesse.
Entendemos que esta conexão é fundamental para o desenvolvimento humano no percurso da aprendizagem do idioma tanto para o aluno quanto para o professor através dos saberes de cada um e do compartilhamento colaborativo destes saberes, partindo do princípio do conhecimento horizontal e não vertical tradicional. Neste contexto, também é importante que o professor possa transmitir a paixão de ensinar e que o aluno possa captá-la, entendê-la e aplicá-la a sua própria vida, recuperando assim a verdadeira alma da aprendizagem entre ambos; viva, participativa e colaborativa.
A Autora - Ágatha Gonzaga
Agatha é brasileira, formada em Administração/Gestão Ambiental, com especialização em Engenharia Sanitária/Tecnologia Ambiental, em constante formação com a Música, além de ensinar português há mais de dezessete anos. Ela fundou a empresa Brasileando na Cidade do México após mais de oito anos criando uma técnica personalizada para estudantes de língua espanhola. Além disso, ela tem um profundo interesse no desenvolvimento pessoal e humano, conseguindo integrar estes aspectos e conhecimentos no seu trabalho profissional.